FANTASIA, a história de um aprendiz feiticeiro que não soube quando parar
O aceno de uma varinha, ou talvez um simples movimento de pincel, dá início à magia. Não é uma mágica de circo ou de truques, mas a magia da criação, a mesma que habita o âmago do ser humano desde o alvorecer dos tempos. A tela se ilumina, revelando o aprendiz de feiticeiro, Mickey Mouse, e com ele, a nossa própria história. Esta fábula, contada em cores vibrantes e notas musicais, é um espelho que reflete as profundezas da alma, uma jornada arquetípica que se desenrola não em uma tela, mas na vastidão inesgotável da nossa imaginação. A história de Mickey, o aprendiz, é a história de todos nós. É a narrativa do ser humano em sua busca incessante pelo domínio de forças que mal compreende... pelo desejo de moldar o mundo à sua vontade. Ele, com a arrogância ingênua da juventude e a crença de que a magia é um atalho para a facilidade, rouba o chapéu do mestre e, com um simples encantamento, dá vida à vassoura. Esta vassoura não é apenas um objeto de limpeza; ela é uma projeção de nossa vontade, uma manifestação de nosso desejo de controle sobre o mundo e suas tarefas. O que se segue, contudo, é um caos apoteótico, uma torrente que transborda, uma multiplicação incontrolável de serviçais autônomos. É o nosso próprio imaginário se desdobrando sem sabedoria, sem limites, transformando o sonho em pesadelo.
O universo de Fantasia é, em si mesmo, uma ode e uma advertência ao poder do imaginário. É um palco onde a música se torna forma, a emoção se transforma em movimento, e o abstrato ganha vida. A história de Mickey é apenas uma das nove peças que compõem essa sinfonia visual, e cada uma delas é uma exploração das infinitas possibilidades da mente humana. O imaginário não é apenas a capacidade de sonhar; é a fonte de toda a criação humana. É o lugar onde nascem os mitos, as lendas, religiões, a arte e ciência. Ele é a nossa capacidade de ver o que ainda não existe, conceber mundos inteiros e de dar forma aos nossos pensamentos mais íntimos. A história de Mickey, o aprendiz, é um mito moderno, um eco dos antigos, que ressoa com a nossa sensibilidade. A água que inunda a sala é o transbordar da nossa própria mente, as vassouras que se multiplicam são os nossos medos e ansiedades que se reproduzem sem controle. O caos que se instala é o caos interno de uma mente que se perde em meio à torrente de pensamentos e desejos. A figura do feiticeiro, que em certo momento retorna, é a da sabedoria, experiência e do controle. Ele, com um simples gesto, desfaz a magia e restaura a ordem. Ele é o nosso eu mais velho, o nosso lado mais sábio, aquele que tem a capacidade de impor limites ao nosso desejo irrefreável de criar e de consumir. Ele nos ensina que a magia, a criatividade, o imaginário, não são um fim em si mesmos, mas um meio para um propósito maior. A verdadeira maestria não reside em fazer a vassoura trabalhar, mas em saber quando pará-la.
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