terça-feira, 16 de agosto de 2011

Não é preciso ser um São Francisco para ser contra a pobreza

Por Heitor Jorge Lau

Ninguém é a favor da pobreza, assim como ninguém é a favor da corrupção, HIV ou maus-tratos desferidos à criancinhas indefesas por babás enlouquecidas. Se ninguém é a favor, por que então existe pobreza no Brasil? A realidade é clara: vivemos num país injusto e com um número crescente de pobres e desamparados. A pobreza é certamente a mais urgente questão com que nos deparamos neste início de mais um século.

Nunca houve, como agora, tanta inconformidade diante da pobreza. Claramente, à medida que aumenta o número de cidadãos com acesso a um padrão de vida decente, aumenta também a sensação de desconforto em relação aos que estão de fora deste cenário. Não fosse a demagogia explícita por trás dos reais interesses das promessas políticas, seria possível crer que o futuro da nação, estaria depositado justamente nas mãos daqueles que por obrigação, são responsáveis pelo desenvolvimento do bem-estar.

Levar em consideração promessas recheadas de pura politicagem serve apenas para alimentar a indústria da obtenção de votos, que é absolutamente estéril na hora de encontrar formas de reduzir a pobreza. Um bom exemplo são as propostas que prometem erradicar o problema em meros quatro anos. A pobreza, para infelicidade geral de muitos, não vai ser erradicada em curto espaço de tempo.

Sua origem não é recente, ela carrega consigo raízes históricas e profundas. Reduzi-la a níveis aceitáveis é uma obra de gerações e exige muita determinação, perseverança, direção e, sobretudo, capacidade profissional para não sucumbir à tentação de atalhos milagrosos e provisórios. Na maioria das vezes, políticas compensatórias, como as famosas cestas básicas, são muito boas para aliviar os efeitos da pobreza, mas ineficazes na solução do problema. Não que o exercício da filantropia deva definitivamente ser banido das práticas dos homens de boa vontade. Mas não é daí que sairá qualquer medida mais profunda.

Mas quais são as soluções corretas? Bem, aí entra em campo o interminável debate sobre os principais atores históricos de um filme que parece não ter fim e que deixa o Brasil longe de ter bons indicadores sociais. Escravidão, ausência de democracia, falta de partidos políticos sólidos, oligarquias nordestinas, e outras tantas, suficientes para preencher mais cem páginas neste texto. Incontáveis as causas motivadoras das mazelas nacionais, servem apenas para justificar o presente. Os fatos não podem nem devem servir, sob hipótese alguma, como repositório de culpas e culpados pela atual situação de miséria que assola determinadas castas sociais. É preciso se indignar com o que acontece no país. Não dá para se acostumar a viver em um país com tantos pobres e tanta concentração.

As políticas sociais devem ter uma orientação de médio e longo prazo e devem ser mantidas por diferentes governos, o que não ocorre na prática, na maioria das vezes.
Perseverar é preciso. E ser perseverante significa ter paciência, porque se as políticas sociais corretas forem adotadas e cumpridas na íntegra, os resultados irão aparecer. Mas, inevitavelmente, isso leva tempo e não existe outra maneira a não ser esperar. Querer encurtar esse percurso com algum atalho milagreiro é a melhor forma de manter, para benefício de alguns, a pobreza de muitos.


Fontes de pesquisa:

- http://jornalglobal.com.br/noticias.php?noticia=2803 – Índices de miséria no Brasil.

- http://www.fundaj.gov.br/observanordeste/obte001.doc - As raízes da miséria no Brasil: da senzala à favela.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

EDUCAÇÃO EM TEMPOS DIFÍCEIS

Por Heitor Jorge Lau

Texto extraído da Revista Educação & Psicologia e adaptado.

Título original: Alguns equívocos sobre o sujeito da educação

Por Lisandre Castello Branco

Vejo praticamente todos os dias alguns dos meus professores do segundo grau, ou melhor MESTRES. Percebo no semblante de cada um deles uma expressão de gente sábia, orgulhosa da profissão, sob minha ótica, a mais honrada e digna desde os primórdios da humanidade. Um professor particularmente me chama muito a atenção, por seu jeito falante, rosto erguido, fala firme e alta, como nos tempos da sala de aula (e faz tempo isto). Este cidadão é detentor de uma vantagem intelectual e cultural de dar inveja - no bom sentido é claro. Cursei o segundo grau em tempos memoráveis. Imaginem vocês que na grade curricular haviam as seguintes disciplinas: Estatística e Custos; Direito; Filosofia; Técnicas Comerciais; entre outras. Citei estas que mais marcaram por sua relevância. De fato, aquela escola preparava o aluno para encarar o mundo do trabalho. Saudades daqueles tempos. Mas e hoje, o que está havendo com o ensino?

"Entre a chamada escola tradicional e a família tradicional o que podia ser facilmente observado era o estrito paralelismo existente entre ambas as instituições. Tal paralelismo ficava evidente nos modos pelos quais eram disciplinadoras, autoritárias e exerciam seus papéis e funções de modo preestabelecido. Tudo isto com uma linguagem educativa e valores pedagógicos comuns que estabeleciam entre elas um continuum de tal maneira que advertências verbais e escritas e suspensões escolares eram prontamente ratificadas pela família, quando não acrescidas de algum castigo adicional em casa. A figura do professor exigente, disciplinador implacável, do diretor que assumia suas funções com mãos de ferro, ultrapassava os muros da escola e, de certo modo, acabava fazendo parte da família como alguém a ser temido e também valorizado. Obviamente que essas referências não são descrições generalizáveis para todas as escolas e famílias, apenas correspondem ao imaginário do que é ainda referido como “escola pública de qualidade” e “família organizada”. Também a família mudou. Aquela família composta por pai, mãe e seus respectivos filhos foi, a partir da revolução cultural deflagrada pelo advento da pílula e da luta das mulheres pelo direito à igualdade de condições, então prerrogativas dos homens, sofrendo um processo de mudança acelerada e tornou-se, então, a “nova família”, cujo padrão tradicional foi substituído pelas mais diferentes modalidades de composição. Com essas mudanças, o ideário da educação familiar, antes calcado nas tradições familiares, foi substituído. Antes, as preocupações estavam centradas na educação moral e social. Exigiam-se obediência, respeito, cumprimento dos deveres e obrigações, principalmente os referentes à escola. Com a “nova família” surgiram as primeiras contestações à escola e aos seus professores. Tudo coincidindo com a democratização da educação. Como se percebe, a situação do sistema educacional ficou, de um dia para o outro, simplesmente irreconhecível. A partir das contestações da “nova família” aos professores, aos conteúdos de ensino, aos procedimentos de avaliação, às relações de seus filhos com os professores, é que pudemos observar uma extraordinária mudança no cenário do cotidiano escolar. O que antes, na escola tradicional, era tratado sob a epígrafe de questões disciplinares, portanto sujeito apenas a procedimentos repressivos passou, muito rapidamente, a ser enfrentado com a convocação da participação dos “especialistas“. Psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, neurologistas, além dos já conhecidos professores particulares, foram muito rapidamente integrados à participação no cotidiano escolar. E, de acordo com os novos paradigmas da ciência positiva – neurociência -, surgiram novos “diagnósticos” para os chamados problemas de aprendizado. Dislexia, distúrbios de atenção, problemas de concentração e outros foram, então, identificados e “tratados”. Não só com atendimento clínico-pedagógico, mas também com medicamentos. O professor passou a conviver, não apenas com esses novos personagens da vida escolar, mas também com anfetaminas para alunos “hiperativos”, coadjuvantes dos “materiais escolares”. Bem, pelo exposto até então, resta um questionamento: quem é, afinal, o sujeito da educação? Por mais extensos e padronizados sejam as grade curriculares e os programas de ensino e, ainda, por mais que os professores mais bem preparados ministrem seus cursos, isso não garante o que preconiza a legislação: formação integral e plena dos alunos. Além disso, é preciso reafirmar, lembrando os ensinamentos de Piaget e Freud, que é somente pela resposta do aluno que é possível verificar se ele aprendeu ou não e, principalmente, como aprendeu. A proposta da substituição do “fracasso escolar” pelo “fracasso da escola” apenas encontra o nome do algoz: o professor. Porque a escola ainda que seja reconhecida como uma das instituições fundantes da inserção do sujeito no mundo só é capaz de realizar tal operação pela mediação do professor, que se encarna em escola na relação com o aluno. Contudo, fazer do professor o algoz é ignorar que ele é tão vítima quanto o aluno. Aquele velho professor da antiga escola tradicional gozava de prestígio social, era digno de respeito e admiração e, ainda por cima, ganhava dinheiro suficiente para manter-se e prover sua família com dignidade. Assim, o professor, que ao longo dos últimos anos, teve que enfrentar os desafios de deparar-se com uma nova clientela escolar sem ter tido um mínimo de preparação prévia vem, a cada dia, sendo obrigado a assumir também as conseqüências da “nova família”. Esse fenômeno o atinge em duas frentes: a profissional e a pessoal, pois, além de não ser respeitado em sala de aula, também não experimenta nenhum orgulho ao se declarar professor, porque nada sobrou do prestígio que coroava a profissão. E o salário, em que pesem as jornadas extenuantes, faz “sobrar cada vez mais mês no fim do dinheiro”, como diz Millôr Fernandes".

HÁBITOS – UM MECANISMO NEURAL E PSICOLÓGICO COMPLEXO E DIFÍCIL DE MUDAR

HÁBITO – UM MECANISMO NEURAL COMPLEXO DE MUDAR by Heitor Jorge Lau             É uma verdade quase inquestionável que, em algum moment...