Heitor Jorge Lau
Empresário e Mestrando em Educação
Pós-Graduado em Gestão de Recursos Humanos
Bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas
Vamos começar citando alguns
artistas de renome nacional e internacional, todinhos brasileiros: Elis Regina,
Tom Jobim, Renato Russo, Cazuza, dentre outros “gigantes” (que me desculpem por
não citá-los) que marcaram presença expoente neste solo verde-amarelo. Houve um
tempo no qual ouvir música era algo prazeroso, encantador, afinal, eram
verdadeiras obras primas. Claro, existiram algumas que não poderiam ser
classificadas como sendo tão boas, mas cá entre nós, sempre existiram as medianas,
o que era considerado normal. Agora, o que não é normal é esse triste e
enfadonho episódio do atual rumo que tomou a música nacional.
A realidade é nua e crua, a música
popular brasileira está em franca e vertiginosa decadência. A MPB, obviamente, passou
por altos e baixos, mas a queda de braços está pendendo forte e rigidamente
para o lado do baixo. Sem querer ser saudosista, a MPB da década 50-60 acena
bons momentos – bossa nova, tropicalismo e gênese do rock brasileiro. Já, na
década de 70, herdeiros da década anterior como Chico Buarque, Rita Lee, Raul
Seixas honraram um longo período de “vacas magras”. Nos anos 80 um renascimento
insurgido através das rádios FMs, Festivais de MPB, e até mesmo o ressurgimento
do rock nacional colocaram em cena nomes como Eduardo Dusek, Beto Guedes,
conjuntamente com os roqueiros Titãs, Legião, Engenheiros, Lulu Santos, 14 Bis,
Ultraje a Rigor, e outros.
Mas, foi então, no final da década
de 90 que tudo começou a desmoronar com o nascimento do fricote, sertaneja,
funk brega e demais deformações do gênero, tudo com grande dosagem de falta de
criatividade, senso crítico e efervescência musical. A MPB, a partir de então,
entrou na fase negra de sua existência, com letras infinitamente minúsculas,
cujo período de miséria parece não ter desfecho.
O Funk, o Forró Universitário e o Sertanejo
Universitário entre outras “coisas” não menos rançosas, tornaram-se o principal
ritmo das festas (ruas da cidade e até mesmo toque de celular – isto sim, é o
ápice da decadência). Este repertório variado composto dos piores ingredientes
possíveis é forjado por uma falta de criatividade que chega a beira do patético.
Os artistas (aliás, palavra que representa uma pessoa que demonstra
sensibilidade e gosto por arte – que não é o caso) que resmungam e “vomitam”
letras desprovidas de qualquer sentido inteligente, possuem um selo digno de
uma fábrica de montagem em série. São todos idênticos, como um copo de plástico
branco descartável. Muda o tamanho, mas não muda a forma, ou seja, todos
iguais. Assim como a letra e o ritmo das composições que são de nível e criatividade
baixíssima e duvidosa. Tudo tão parecido que a coreografia de palco torna-se a
mesma porque é difícil tentar diferenciar algo que é igualmente horroroso.
Estas “bandas e artistas” não passam
de fantoches descartáveis. Prova disto é que no exato momento em que qualquer
um deles deixar de existir (pena não acontecer isso com todos), ninguém,
absolutamente ninguém sente falta ou saudades. Existem casos no Forró Universitário
(denominado no nordeste do país de “Fuleragem Music”) no qual permanecem os
músicos, troca-se o nome da banda, e substituem-se somente os cantores quando a
banda deixa de existir. Impressionante não?
Mas toda esta parafernália irritante
e sem gosto ainda encontrará espaço entre o povo terráqueo por um motivo
concreto: porque existem “empresários” que insistem em fincar pé com a fórmula
que rende muita grana. A indústria
cultural é protagonista pelo atual estado miserável da música popular
brasileira. O interesse pela ampliação exponencial do mercado consumidor, algo natural
na produção capitalista e que faz parte, por conseguinte, da produção cultural
nesta sociedade, produz a necessidade de uma cultura descartável.
Esta cultura descartável é delineada
por ciclos de renovação periódica de produtos, pois ela permite a reprodução em
larga escala do consumo. Caso um determinado estilo musical permaneça por muito
tempo, então o consumo também se vê sem grandes crescimentos, pois quem compra
um CD de rock de determinada banda, poderá continuar ouvindo por muito tempo.
Porém, se a cada cinco anos surge um novo modismo musical, então o consumo se
expande em proporção considerável. Assim, a transformação da MPB em cultura
descartável apenas mostra que a lógica do lucro domina tudo, inclusive a
produção cultural, e isto mostra a razão de seu progressivo empobrecimento.
Pelo andar da carroça, todos nós
corremos o risco de sentir náuseas causadas por esta avalanche de ritmos
insossos por muito tempo, pelo menos enquanto
existirem fãs de plantão. Contudo, existe uma luz no fim do túnel: sempre
que ocorre efervescência social e mudanças históricas, a música também ganha fôlego.
Assim, mesmo contra a vontade e interesses dos donos da indústria cultural, a
lógica do lucro não escapa da obrigação de divulgar tudo que é contrário aos
seus interesses. Portanto, aleluia, da contradição pode surgir o novo. Resta
torcer para que o novo assuma o seu lugar com criatividade.