terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A DECADÊNCIA DA MÚSICA POPULAR BRASILIERA


Heitor Jorge Lau
Empresário e Mestrando em Educação
Pós-Graduado em Gestão de Recursos Humanos
Bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas

            Vamos começar citando alguns artistas de renome nacional e internacional, todinhos brasileiros: Elis Regina, Tom Jobim, Renato Russo, Cazuza, dentre outros “gigantes” (que me desculpem por não citá-los) que marcaram presença expoente neste solo verde-amarelo. Houve um tempo no qual ouvir música era algo prazeroso, encantador, afinal, eram verdadeiras obras primas. Claro, existiram algumas que não poderiam ser classificadas como sendo tão boas, mas cá entre nós, sempre existiram as medianas, o que era considerado normal. Agora, o que não é normal é esse triste e enfadonho episódio do atual rumo que tomou a música nacional.

            A realidade é nua e crua, a música popular brasileira está em franca e vertiginosa decadência. A MPB, obviamente, passou por altos e baixos, mas a queda de braços está pendendo forte e rigidamente para o lado do baixo. Sem querer ser saudosista, a MPB da década 50-60 acena bons momentos – bossa nova, tropicalismo e gênese do rock brasileiro. Já, na década de 70, herdeiros da década anterior como Chico Buarque, Rita Lee, Raul Seixas honraram um longo período de “vacas magras”. Nos anos 80 um renascimento insurgido através das rádios FMs, Festivais de MPB, e até mesmo o ressurgimento do rock nacional colocaram em cena nomes como Eduardo Dusek, Beto Guedes, conjuntamente com os roqueiros Titãs, Legião, Engenheiros, Lulu Santos, 14 Bis, Ultraje a Rigor, e outros.

            Mas, foi então, no final da década de 90 que tudo começou a desmoronar com o nascimento do fricote, sertaneja, funk brega e demais deformações do gênero, tudo com grande dosagem de falta de criatividade, senso crítico e efervescência musical. A MPB, a partir de então, entrou na fase negra de sua existência, com letras infinitamente minúsculas, cujo período de miséria parece não ter desfecho.

            O Funk, o Forró Universitário e o Sertanejo Universitário entre outras “coisas” não menos rançosas, tornaram-se o principal ritmo das festas (ruas da cidade e até mesmo toque de celular – isto sim, é o ápice da decadência). Este repertório variado composto dos piores ingredientes possíveis é forjado por uma falta de criatividade que chega a beira do patético. Os artistas (aliás, palavra que representa uma pessoa que demonstra sensibilidade e gosto por arte – que não é o caso) que resmungam e “vomitam” letras desprovidas de qualquer sentido inteligente, possuem um selo digno de uma fábrica de montagem em série. São todos idênticos, como um copo de plástico branco descartável. Muda o tamanho, mas não muda a forma, ou seja, todos iguais. Assim como a letra e o ritmo das composições que são de nível e criatividade baixíssima e duvidosa. Tudo tão parecido que a coreografia de palco torna-se a mesma porque é difícil tentar diferenciar algo que é igualmente horroroso.

            Estas “bandas e artistas” não passam de fantoches descartáveis. Prova disto é que no exato momento em que qualquer um deles deixar de existir (pena não acontecer isso com todos), ninguém, absolutamente ninguém sente falta ou saudades. Existem casos no Forró Universitário (denominado no nordeste do país de “Fuleragem Music”) no qual permanecem os músicos, troca-se o nome da banda, e substituem-se somente os cantores quando a banda deixa de existir. Impressionante não?

            Mas toda esta parafernália irritante e sem gosto ainda encontrará espaço entre o povo terráqueo por um motivo concreto: porque existem “empresários” que insistem em fincar pé com a fórmula que rende muita grana. A indústria cultural é protagonista pelo atual estado miserável da música popular brasileira. O interesse pela ampliação exponencial do mercado consumidor, algo natural na produção capitalista e que faz parte, por conseguinte, da produção cultural nesta sociedade, produz a necessidade de uma cultura descartável.

            Esta cultura descartável é delineada por ciclos de renovação periódica de produtos, pois ela permite a reprodução em larga escala do consumo. Caso um determinado estilo musical permaneça por muito tempo, então o consumo também se vê sem grandes crescimentos, pois quem compra um CD de rock de determinada banda, poderá continuar ouvindo por muito tempo. Porém, se a cada cinco anos surge um novo modismo musical, então o consumo se expande em proporção considerável. Assim, a transformação da MPB em cultura descartável apenas mostra que a lógica do lucro domina tudo, inclusive a produção cultural, e isto mostra a razão de seu progressivo empobrecimento.

            Pelo andar da carroça, todos nós corremos o risco de sentir náuseas causadas por esta avalanche de ritmos insossos por muito tempo, pelo menos enquanto existirem fãs de plantão. Contudo, existe uma luz no fim do túnel: sempre que ocorre efervescência social e mudanças históricas, a música também ganha fôlego. Assim, mesmo contra a vontade e interesses dos donos da indústria cultural, a lógica do lucro não escapa da obrigação de divulgar tudo que é contrário aos seus interesses. Portanto, aleluia, da contradição pode surgir o novo. Resta torcer para que o novo assuma o seu lugar com criatividade.


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