“Interação de criança com homem nu gera polêmica em exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo” (https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/artes/noticia). Esta é a chamada inserida no link anterior. Uma polêmica sem precedentes (creio) que gerou um mix de revoltas, indignações, críticas e exageros (como sempre). Mas sobre este episódio muito já se falou e discutiu. Esta introdução foi para chamar a atenção. Agora, aqui, o papo é outro. Uma crítica sobre a arte moderna. Afinal o que vem a ser arte e o que vem a ser arte moderna? Há quem afirme que um monte de livros empilhados ou uma pedra de três toneladas no meio de uma salão é arte moderna. Mesmo que um olhar desmunido de crítica artística não perceba ou não consiga interpretar a mensagem ou as mensagens de um quadro de “algum famoso” (se é que existe uma), por exemplo, este mesmo olhar é humanamente capaz de fazer aquela cara de paisagem diante da obra, suspirar e... era isso! Bem no comecinho do século, um cara chamado Affonso Romano de Sant'Anna, que graduou em Letras Neolatinas pela então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UMG, atual Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), iniciou uma ampla discussão a respeito daquilo que acabou sendo convencionado como Arte Moderna.
Sant'Anna lecionou na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), EUA, cursou doutorado pela UFMG e, após um ano, desenvolveu um curso de pós-graduação em Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Ele ministrou cursos na Alemanha (Universidade de Colônia), Estados Unidos (Universidade do Texas e UCLA), Dinamarca (Universidade de Aarhus), Portugal (Universidade Nova) e França (Universidade de Aix-en-Provence). Pouca coisa (né)! Ainda teria mais histórico mas vamos parar por aqui, afinal, este breve “historiquinho” é para demonstrar que não se trata de um reles palpiteiro de plantão.
Segundo este ilustre cidadão brasileiro, “nos últimos anos — disse ele — tornou-se evidente um fosso entre o público e as obras apresentadas como artísticas (…) Muitos intelectuais importantes dentro da chamada modernidade não reconhecem em muitas das obras hoje apresentadas em galerias e museus o caráter de inovação ou de criatividade artística”. Ele esclarece que não está se referindo a qualquer manifestação com o mesmo teor vanguardista que sinalizou a passagem do século XIX para o XX, com linguagens estéticas inovadoras e as suas respectivas dificuldades de assimilação das pretensas mensagens artísticas.
Sant'Anna complementa que “a sensação que se tem hoje é que muitos autores desses produtos não estão apenas repetindo essencialmente as experiências que vão do impressionismo ao dadaísmo, mas sobretudo são despreparados técnica e intelectualmente para a tarefa a que se propõem”. Verdade indiscutível! Dadísmo é movimento vanguardista do início do século XX. Sua denominação é derivada da palavra dadá, que pode ter múltiplos significados e não significar coisa alguma. Surgiu durante a Primeira Guerra Mundial, em 1916, como a ideia básica de contestar os valores culturais. As muitas reflexões de Affonso Romano de Sant’Anna foram aglutinadas no livro intitulado Desconstruir Duchamp: arte na hora da revisão. Marcel Duchamp (1887-1968) foi o responsável pelo conceito de Ready Made, que é o transporte de um elemento da vida cotidiana, a princípio não reconhecido como artístico, para o campo das artes. Começou apenas como uma mera brincadeira entre amigos. A partir daí, Duchamp passou a incorporar materiais de uso comum nas suas esculturas. Em vez de trabalhá-los artisticamente, ele simplesmente os considerava prontos e os exibia como obras de arte. Enfim, foi ele que transformou um penico em obra de arte. Pasmem! Certa vez desenhou um bigodinho na Mona Lisa. Sim, na Mona Lisa! O ápice da sua “inspiração e criação artística” foi quando acordou no meio da noite e resolveu se masturbar (desculpem os leitores mas é verdade). O produto final da masturbação pingou sobre um chinelo usado e voilà: atualmente a obra ou (para os leigos) o chinelo velho com “aquilo” encontra-se exposto num museu de Tóquio, e... vale uma fortuna. Guardem os seus chinelos velhos. Um dia eles irão valer muita grana (rsss).
Foi uma época em que demandava questionamentos sobre o fazer artístico. Mas, o tempo de Marcel Duchamp passou, foi, já era... e muita gente insiste em querer imitá-lo sem perceber a total ingenuidade (e falta de criatividade) da atitude. No “conjunto da obra”, se tudo que é enfadonho, desprovido de criatividade, apelativo e sem noção (ou seja, qualquer coisa) é considerado arte ou pode vir a ser arte, a contrapartida mais sensata e aceitável é que nada do que é chamado de arte terá a possibilidade de ser arte. Simples assim!
O resultado disso tudo? Está aí, mundo a fora: uma pirâmide feita com caixinhas de fósforos é uma escultura; uma toalha suja pendurada na parede, um autorretrato; um doido jogando cerveja no chão, um ato de protesto. Certa vez um artista italiano, Piero Manzoni (1933-1963), depositou suas fezes dentro de uma latinha e batizou a obra como Merda de Artista. É celebre sua obra Merda de Artista, dentre outras tantas que chegam a ser vendidas por mais de um milhão de libras (ou seis milhões e reais). É algo a se pensar: fazer no vaso ou dentro de uma lata? Vá que o “cocozinho” renda uma grana. Em seguida, o artista belga Win Delvoye, construiu uma gigantesca máquina de fazer cocô. Ele ficou conhecido por trabalhos provocadores, como esta, a"Cloaca", uma máquina que reproduz o sistema digestivo humano e gera fezes O produto dessa máquina já foi vendido em saquinhos que custavam mil dólares cada. Tá loko! Atualmente me questiono se não entendo de arte ou de cocô.
Diante destes mínimos exemplos de cair o queixo, seria possível inventar uma leitura intelectualizável de tais “obras artísticas”, mas... isto seria um gesto tão imbeciloide quanto levar fezes humanas embaladas para casa. Não se trata aqui de propor um boicote ou uma censura à performance com atitudes autoritárias e pouco construtivas. Trata-se, sim, de reconhecer, sem medo de passar um atestado de conservadorismo, que o mundo está diante de arte ruim, tola, esnobe, repetitiva e totalmente deslocada do seu tempo (se é que algum dia deveria ter tido tempo). Mas...se existe “arte” ruim e sem significado, também existem “críticos” de arte e “apreciadores” desta “arte” que permanecem estáticos diante disto tudo com cara de samambaia jurando que estão percebendo o imperceptível. Palavras de Sant’Anna: “já passou da hora de os artistas urinarem no penico de Duchamp”...ou quem sabe pegar o cocô da latinha de Manzoni e colocar no penico artístico.