domingo, 10 de janeiro de 2010

Desabafo de um homem preservacionista.


Trabalho na zona urbana, mas há dois e meio optei por viver na zona rural. Na época, me parecia a forma mais fácil de fazer a minha parte com a questão preservacionista. Não estava confortável na posição de mais um parasita, consumindo os recursos do planeta e fazendo quase nada para preservar os recursos naturais, que pasmem, são esgotáveis.



Não posso dizer que consegui a paz de consciência desejada... O galo canta às cinco horas da manhã e, logo mais, a coruja anuncia mais uma noite que está por vir, mas as “COISAS” do cotidiano parecem que continuam as mesmas, ou melhor, as pessoas permanecem no seu estado de indiferença e estagnação. Pensam que a solução e o equilíbrio ambiental virão de alguma autoridade ou de Deus...



Por mais que eu queira me conformar com o modus operandis da sociedade atual com relação aos assuntos e acontecimentos da sociedade caótica do século XXI, não consigo apaziguar minha mente e adormeço todas às noites inquieto e preocupado por ver tão claramente que nossa civilização caminha para seu extermínio no planeta. Não entendo como alguns ainda planejam ter filhos...



Não quero o papel de profeta do apocalipse, mas os sinais são claros e podem ser analisados por qualquer mente crítica: chuvas torrenciais, frios extremos, ciclones inusitados. Nada disso, porém, parece afetar a consciência dos cidadãos globais de forma significativa. Continuamos na gana consumista como se os recursos fossem inesgotáveis! A maioria continua vivendo ou sobrevivendo como se o planeta não estivesse com seus dias contados. Aliás, é preciso me corrigir, o planeta já demonstrou que pode viver sem os humanos... a extinção então, refere-se a forma de vida humana da qual sou um dos representantes.



O descaso pela fauna e flora é o ápice da falta de prospecção lógica, intelectual e emocional de quase toda a totalidade da raça que se autodenomina humana. Caríssimos amigos e leitores deste blog, não se considerem inclusos nesta vala comum porque o simples fato de estarem navegando por estas paragens vocês já pertencem a outra “casta”... aquela que procura conhecimento, questionamento do status-quo, não fogem da controvérsia, opiniões diversas, gente insatisfeita... São estes que afinal, destoam da voz acomodada e, se não faz diferença signifigativa, ao menos incomoda aqueles que fingem não ver o que acontece.


Hoje, após bebericar alguns drinks e uma certa quantidade de cerveja, olhando a mata nativa que pago para preservar (tentando fazer a minha parte), encontro-me em estado de total revolta e repúdio pela falta de consideração e preocupação das criaturas que usufruem da vida (divina que Deus lhes deu), sem a mínima consideração pela nave mãe chamada Planeta Terra e seus habitantes das mais variadas espécies.


Moro há oito metros acima do nível do mar. Mesmo assim, na última segunda-feira, não consegui chegar na minha casa, 30 quilometros do local que trabalho... pois a chuvarada que abalou o Rio Grande do Sul em menos de 24 horas, tomou conta da estrada e isolou localidades, entre elas, o distrito onde moro. A chuva torrencial, além de invadir as estradas, inundaram as terras dos meus vizinhos e conhecidos e, hoje, após sete dias decorridos, tudo voltou ao normal. Veja bem, o normal significa queimadas, devastações das matas, lixo jogado nos rios e matas... A humanidade caminha para o fim porque o planeta, senhores, está nos expurgando como erva daninha!!! Salvo algumas consciências desgarradas, o restante pensa que tudo não passou de um deslize natural ocasionado pelo fenômeno El niña (como se este fosse produto da ira de Deus e não resultado da exploração da natureza).


“Jesus me abane!” O único consolo que me resta é o fato de eu ter feito e continuar tentando fazer a diferença. Cuido da fauna e flora que me circundam, dentro das minhas atuais condições econômicas, preservo a pureza da natureza e das águas em 5 hectares. Local que amo e dedico tempo e cuidado aos seres que possuem vida... incondicionalmente... Procuro esclarecer e difundir práticas consevacionistas entre meus vizinhos (evitar queimadas, preservar a mata nativa, nascentes dos rios, plantar árvores frutíferas para as aves silvestres... ). Mas não vou negar, a ignorância, a limitação de inteligência de alguns me tiram do sério... não colho resultados fartos. Posso concluir, que somente consigo resultados proveitosos naqueles que em sua essência, já pressentiam e tinham sensibilidade de que precisam proteger a natureza que tão generosamente tem lhes mantido na terra.


Perdoem meu sentimentalismo, mas amo demais este planeta para não sofrer com estes acontecimentos.


Créditos da Imagem: fotógrafo Nick Brandt

Texto: Heitor Jorge Lau

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