Ao que tudo indica, assistir a programação da televisão está se tornando a melhor ou única opção de lazer e fonte de conhecimento do povo brasileiro, mesmo que topar com informação crível e entretenimento saudável esteja cada vez mais difícil. Aparentemente, o fenômeno é estimulado por um modelo cultural proveniente do arrocho econômico, afinal, quem dispõe de dinheiro no bolso para usufruir de uma vida socialmente ativa ou comprar um bom livro?
Cientes ou não dessa situação, o fato é que os dirigentes das emissoras disputam entre si de uma fatia cada vez mais preciosa da audiência, através de uma programação banalizada por excesso de baixaria e qualidade duvidosa. Mas, independentemente da programação ou contexto social, a verdade é que a televisão sempre exerceu grande atração e influência sobre as pessoas. A maior prova disto são as tendências da moda, do vestuário e do cabelo, por exemplo, que oscila conforme a novela em voga.
Esse fascínio que a TV provoca na mente do telespectador faz surtir certa confusão entre o real e o imaginário. Aquilo que se encontra distante, seja por questões financeiras, geográficas ou intelectuais, parece mais acessível. A sensação é a de que o penteado “super-transado” da novela das oito fica no saloon mais próximo ou que o corpo perfeito do comercial das nove está na academia que todos freqüentam. São aspirações alucinadas que deturpam o raciocínio dos mais desatentos.
Até mesmo nos telejornais é visível o uso desenfreado da dramatização por parte dos apresentadores, a partir da utilização de dueto diante das câmeras – enquanto um fala outro fica atento aos fatos, sempre com expressão sisuda. Esse artifício adotado praticamente por todas as emissoras, nada mais é do que a tentativa de tornar mais realista a narrativa dos acontecimentos.
E se a ordem do momento é ser realista, então, a interatividade não poderia permanecer de fora do cenário, afinal, o que torna mais real uma circunstância do que a interação. O profissional sentado diante das inúmeras câmeras do estúdio estimula e convida, literalmente, o telespectador atento a participar de uma promoção, melhor ainda, a proferir sua opinião a respeito de determinado tema, preferencialmente polêmico. Eis aí o ingrediente perfeito: o prestígio.
Se na sociedade tal consideração não é encontrada com tanta facilidade, por intermédio de uma conexão telefônica ela torna-se instantânea. Até mesmo o noticiário esportivo não encontra mais espaço para retransmitir todos os gols da rodada anterior, porque falta tempo para conciliar tanta participação dos desportistas com a quantidade de bolas na rede. Noticiário, esporte, reality-show, não importa, a questão é cativar a atenção de quem passa pela frente do televisor.
Mas como se não bastasse o fato do meio de comunicação exagerar, de forma deliberada ou inconsciente, e pior, inconseqüente, da tentativa frenética de imitar a realidade e do abuso da interação, a falta de moralidade, de ética e civilidade também estão presentes. Principalmente nos comerciais publicitários está evidente o esquecimento momentâneo da moral e dos bons costumes em detrimento de um humor rançoso que anestesia o senso crítico do consumidor.
Indubitavelmente, a televisão sempre ocupou lugar de destaque entre os demais meios de comunicação por ser naturalmente uma forma extraordinária de transmissão de cultura e conhecimento. Porém, o que falta são profissionais sérios, dotados de senso crítico e responsabilidade para ocuparem o lugar destes que hoje estão aí, utilizando o recurso da pior forma possível. Assim, eles desmoralizam e ridicularizam os conteúdos porque, infelizmente, ainda existem consumidores.
Resta saber se a programação vigente configura-se sem restrição, fiscalização e, conseqüentemente, com pouca qualidade em decorrência de uma vasta legião de telespectadores submissos ou, na pior das hipóteses, desinteressada. Alguma atitude deve ser adotada, caso contrário, todos ficarão a mercê de uma programação que além de influenciar e viciar tem o poder impressionante de atrofiar a massa cinzenta de grande parte da nação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário