Por Heitor Jorge Lau
Pela imensa janela do local que trabalho, pelas vias que transito todos os dias, pelas palavras (muitas ofensivas) que escuto pairar no ar, vejo algo perturbador: a crescente insanidade mental que se prolifera na sociedade, com uma velocidade de preocupar. Acredito que o mundo, pelo menos este que eu convivo, está doente. Recheados por narcisistas. Tudo bem, não vamos generalizar, mas a maioria está com a antena parabólica desajustada. O narcisismo descreve uma condição puramente psicológica e uma condição singularmente cultural. Em nível individual, denota uma perturbação da personalidade delineada por um investimento extremamente exagerado na imagem da própria pessoa à custa do self. Todo narcisista está mais preocupado com o modo como se apresenta do que como se sente. Negam toda espécie de sentimento que contradiga a imagem que desesperadamente procuram apresentar. Agem sem sentimento, tendem a ser sedutores e ardilosos, empenham-se na obtenção de poder e de controle. Acabam por se tornarem egoístas, concentrados somente em seus próprios interesses, ignorando e carecendo, nitidamente, de autoexpressão, serenidade, dignidade e integridade.
Esta gente que está por aí, jogando toda espécie de lixo nas ruas (pasmem, no mesmo local que retornarão em seguida), que desrespeitam as regras de trânsito, que baixam os quatro vidros do carrão para que todos ouçam o super-som instalado (pior, a música mais brega e rançosa existente), que desejam ganhar a atenção com músculos e curvas constituídas a partir de horas de academia, plástica e outras químicas, enfim, etc etc etc... vivem a vida como algo vazio e destituído de significado. São zumbis desmunidos de valores humanos - ausência total de interesse pelo meio ambiente, pela qualidade de vida, pelos seres humanos seus semelhantes. Uma sociedade que sacrifica sem dó o meio ambiente em nome do lucro e do poder, seja qual for, revela sua insensibilidade em face das necessidades humanas. A proliferação de coisas materiais converte-se em medida de progresso de vida, e assim, o homem é oposto à mulher, o trabalhador ao empregador, o indivíduo à comunidade. Quando a ignorância ocupa posição mais elevada do que a sabedoria, quando a notoriedade é mais admirada do que a dignidade, quando o êxito é mais importante do que o respeito por si mesmo, a própria cultura supervaloriza a imagem e deve ser considerada narcisista.
Ternura, compaixão, solidariedade, respeito são palavras que fazem parte de um vocabulário que está quase sendo colocado no museu, afinal, neste local permanecem objetos que lembram aquilo que já foi e existiu um dia.
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